segunda-feira, 26 de maio de 2014

Clube da Luta - Análise

Esse post – aliás, esse blog – surgiu após a apresentação de um trabalho de português no qual tive que apresentar para a turma. Nos foi dado uma corrente de pensamento e deveríamos escolher um filme que falasse sobre e, então, criar relações entre o filme e o pensamento. O tema do meu grupo foi o consumismo. O filme que escolhemos, Clube da Luta. Após apresentá-lo, decidi criar este blog.
É provável que eu edite muitas coisas ainda neste post.

                                              O Filme.

Clube da Luta.
Clube da Luta (Fight Club) é um filme de 1999 dirigido por David Fincher, baseado no livro homônimo de Chuck Palahniuk, lançado em 1996.
                O roteiro é de Jim Uhls, com a atuação de Brad Pitt, Edward Norton, Helena Bonham Carter, Jared Leto e Meat Loaf.
                Na época de seu lançamento o filme foi um fracasso de bilheteria, somente com as vendas em DVD que o longa foi considerado um sucesso e rapidamente virou Cult.


O enredo.


O enredo de clube da luta gira em torno de um personagem sem nome conhecido como narrador. O protagonista é extremamente consumista e sofre de insônia. Depois de um médico recusar a lhe dar remédios para dormir, ele passa a visitar grupos de ajuda. Vendo o sofrimento alheio, ele consegue sua libertação espiritual e consegue dormir.
Entretanto, Marla Singer aparece em um desses encontros. Ele logo reconhece que, assim como ele, ela é uma farsante. Com outra impostora no local, ele não consegue mais ter sua libertação e, assim, passa a não dormir novamente. Depois de combinar horários dos grupos de ajuda, os dois param de se encontrar e o narrador volta a dormir.
Durante a volta de uma viagem, o personagem conhece Tyler Durden no avião. A conversa é rápida. Quando chega em casa, descobre que seu apartamento está completamente destruído por causa de uma explosão. O narrador, sem ter ninguém para conversar, liga para seu novo colega, Tyler. Depois de uma rápida conversa no bar, eles passam a viver juntos.

Antes de ir para a casa, Tyler pede para o Narrador lhe bater. Todas as noites eles repetiam a mesma coisa; Bar, briga e casa. Com o tempo suas brigas foram chamando atenção das outras pessoas do bar. Mais pessoas queriam brigar. Depois de certo tempo as lutas migraram para o porão do bar e assim surge o primeiro Clube da Luta.
No desenrolar do filme, descobrimos que Tyler Durden e o Narrador são a mesma pessoa. O primeiro é fruto da imaginação do segundo. A idealização de uma pessoa perfeita. Tyler é o alter ego do protagonista. 

Os personagens.


Narrador, Tyler Durden e Marla Singer.

Narrador: O personagem interpretado por Edward Norton é a personificação do consumista. Sua vida é ditada pelas coisas que ele compra. Ele se define como pessoa através dos produtos que ele tem. É completamente infeliz e sem identidade. Sua vida se encontra em uma rotina interminável (tudo é uma cópia, da cópia, da cópia...). Vive na comodidade da sociedade.

Tyler Durden: É o oposto do narrador. Ele é anti-consumista e anti-capitalista. Sua vida não se resume em uma rotina. Faz as coisas que gosta. Não tem um emprego fixo, têm vários “bicos”. Fabrica sabão caseiro, trabalha em cinema, entre outros. Mora de ocupação em uma casa abandonada que está caindo aos pedaços. Não vive na comodidade da sociedade contemporânea.

Marla Singer: Assim como Tyler, ela é o oposto do narrador. Ela, para a sociedade, é alguém desprezível, que não se veste e não age das maneiras convencionais. Ela faz as coisas que a interessam como pessoa. Sua identidade, assim como Tyler, não está nas compras e sim nas coisas que ela realmente é. 

O consumismo em Clube da Luta.



O narrador é uma pessoa infeliz e sem identidade alguma. Já em uma das primeiras cenas do filme somos mostrados como ele está entregue ao consumismo. Em uma narração, ele fala das coisas que comprava para seu apartamento e diz:
               
Eu folheava catálogos e me perguntava: que tipo de jogo de jantar me defina como pessoa? (Narrador, Clube da Luta)

Sua identidade estava entregue nos itens que ele comprava para o apartamento. Seu apartamento – com tudo o que ele comprou – é sua própria vida. 
                
"Deslize."
Uma das cenas mais icônicas, e pouco entendida, desse filme é a cena em que o narrador está em um grupo de ajuda para pessoas com câncer. Durante uma terapia introspectiva, o personagem se encontra em uma caverna de gelo. Enquanto anda, encontra um pinguim que olha para ele e diz “Deslize”. O pinguim era, na verdade, ele. O que ele queria fazer, mas não tinha coragem. Continuava entregue aquela mesma vida sem identidade e consumista. Em outra cena, após conhecer Marla, na mesma terapia, ao invés de ver o pinguim, ele vê Marla dizendo-o para deslizar. É a cena que nos é possível saber o que o narrador quer de verdade. Ele quer uma vida como a de Marla (E ela também).
Marla e Tyler são quase a mesma coisa, os mesmos modos de vida. O narrador, enquanto narrador, a odeia porque ele não consegue ser o que ela é e nem tê-la, pelo mesmo motivo. Quando “Tyler” assume o corpo do protagonista, ele passa a ter relações sexuais com ela, pois eles passam a se entender como indivíduos. 

Ao voltar de viagem e encontrar seu apartamento completamente explodido, o protagonista resolve ligar para Tyler Durden, que conheceu poucas horas antes em um voo.
        A explosão é importante para entender o personagem. Como já foi dito, seu apartamento era sua vida e tudo o que ele era. Quando o mesmo explode, o personagem “morre”. (Não literalmente). Ele perde sua “identidade” e todas as coisas que o definem como pessoa. Isso é mostrado em uma das falas em off do personagem, ao olhar o que sobrou de sua geladeira.

"Que constrangedor! Uma casa cheia de condimentos e nenhuma comida." (Narrador, Clube da Luta)


            A casa estava lotada de diversas coisas não essenciais à vida humana (condimentos), mas o que importava de fato, não tinha. (Alimento). Espiritualmente ele era vazio.

"As coisas que você possui,
acabam possuindo você."
Tyler aceita o convite e os dois vão a um bar. Tyler nesta cena já mostra o que ele realmente acredita. O narrador começa a falar de como ele perdeu tudo o que tinha. Tyler responde dizendo que as coisas são só coisas. As pessoas já não se importam mais com o que é essencial ou com as coisas que deveriam se preocupar. Que nossas únicas preocupações são as celebridades, fofocas e o nome de alguém em nossa cueca. E diz que as coisas que nós possuímos, acabam possuindo a gente. Com esta última frase (As coisas que você possui, acabam possuindo você), Tyler sintetiza tudo o que pensa sobre o consumismo desenfreado que a sociedade sofre. Você não é mais conhecido pelo o que você é ou pelo o que você fez e sim pelo que você comprou e tem. Você passa a depender dos produtos para se definir como pessoa e ter uma identidade.

Logo ao sair do bar, Tyler diz que o protagonista pode viver em sua casa, desde que primeiro ele lhe dê um soco.

Tyler Durden: Eu quero que você me faça um favor.
Narrador: Sim, claro...
Tyler Durden: Eu quero que você me golpeie o mais forte que puder.
(...)
Tyler Durden: Por quê? Eu não sei. Eu nunca estive numa briga. E você?
Narrador: Não, mas isso é algo bom.
Tyler Durden: Não, não é. Quanto você pode conhecer sobre você mesmo se você nunca esteve numa briga? Eu não quero morrer sem cicatrizes. Então, vai, me golpeie antes que eu perca a paciência.

                Bom, é importante lembrar, novamente, que Tyler e o narrador são a mesma pessoa.
                “Eu não quero morrer sem cicatrizes” é o narrador dizendo a si mesmo que não quer viver mais nessa vida de comodidades com soluções práticas para tudo. Ele queria se arriscar, experimentar. Sair da rotina. Ele queria algo novo em sua vida. Depois de um soco, eles iniciam uma briga. Após o término da briga, ambos vão para a casa de Tyler e nova moradia do narrador. A casa fica em um lugar mal localizado e está caindo aos pedaços. No inicio o personagem estranha a casa, mas com o passar do tempo acostuma-se e para de sentir falta das antigas coisas que eram essenciais para ele, como a TV. Ele começa a se desprender do comodismo que o consumismo lhe causava. A casa foi deixava por alguém que tinha o vício em colecionar. No meio das “tralhas” deixadas pelo antigo dono, o narrador encontra uma coleção de livros de órgãos do corpo humano falando em primeira pessoa. “Eu sou o cólon do Jack”. Mais para frente, ele usa isso como uma das mais fortes afirmações do roteiro.
"Eu sou a vingança sorridente do Jack".

       "Eu sou a vigança sorridente do Jack". (Narrador, Clube da Luta)

                Jack pode ser entendido não como uma pessoa e sim como a humanidade. Essa parte em que as pessoas mais se confundem ao achar que o narrador se chama Jack por dizer essas assertivas, porém não. O personagem não tem nenhum nome. O fato dele não ter nome é proposital. É para ser bem mais fácil a identificação do espectador com o personagem. Facilitando o reconhecimento de quem assiste no personagem.
                  Há várias outras frases como esta durante o longa, como "Eu sou o suor frio de Jack" e "Eu sou o sentimento de rejeição de Jack".


                 As brigas entre o Narrador e Tyler Durden começa a chamar a atenção de outras pessoas do bar, que também começam a participar. Depois de um tempo, o número de pessoas brigando é muito alto. As lutas passam a ser no porão do bar. Lá é fundando, oficialmente, o primeiro clube da luta. O Clube é o lugar onde as pessoas se libertam de tudo o que a sociedade impõe de forma desnecessária. Há uma libertação das pessoas que participam. Elas param de dar importâncias as coisas banais, como a cor da gravata. O clube continua a crescer, até que ele está grande demais e Tyler dá um dos discursos mais famosos do cinema, que é auto explicativo.

Cara, eu vejo no clube da luta os homens mais fortes e inteligentes que já viveram. Vejo todo esse potencial, e vejo ele desperdiçado. Que droga, uma geração inteira enchendo tanques de gasolina, servindo mesas, ou escravos do colarinho branco. Os anúncios nos fazem comprar carros e roupas, trabalhar em empregos que odiamos para comprar as porcarias que não precisamos. Somos uma geração sem peso na história, cara. Sem propósito ou lugar. Nós não temos uma Grande Guerra. Nem uma Grande Depressão. Nossa Grande Guerra é a guerra espiritual... nossa Grande Depressão é nossas vidas. Todos nós fomos criados vendo televisão para acreditar que um dia seríamos milionários, e deuses do cinema, e estrelas do rock. Mas nós não somos. Aos poucos vamos tomando consciência disso. E estamos muito, muito revoltados. (Tyler Durden, Clube da Luta)

                Marla tem uma overdose e telefona para o Narrador para pedir ajuda. Depois de negar ajuda a ela, Tyler vai em seu lugar. A partir deste momento, os dois começam a se relacionar de forma intensa. Novamente, é o narrador se entregando as suas vontades. Ele queria ter Marla para si, pois ela é quase igual a Tyler, tudo o que ele sempre quis ser.

                Mais clubes da luta surgem por todo o país. Tornam-se uma organização anti-capitalista e anti-consumista. Eles criam um projeto chamado “Projeto Destruição”, que tinha a finalidade de espalhar o vandalismo contra tudo que eles iam contra. Em uma das cenas, Tyler vai até uma loja e sequestra o funcionário. Leva-o até os fundos onde aponta uma arma para sua cabeça e diz para que ele vá atrás de seus sonhos, caso contrário ele o mataria. É uma tentativa de Tyler de fazer com que o funcionário acordasse para a vida e saísse dessa comodidade que ele vive, trabalhando em um emprego que odeia. As pessoas não prestam mais atenção nas coisas, nem nos sabores dos alimentos. Tyler jamais mataria o empregado, a arma não estava carregada.
"Seu nome era Robert Paulson"
                Depois de uma discussão sobre o Projeto, Tyler parte e deixa o narrador sozinho. Logo após Bob morre em um dos ataques do Projeto, onde eles queriam destruir uma arte comercial. Bob já tinha uma relação com o narrador mesmo antes do Clube da Luta. O narrador fica aterrorizado com sua morte e assustado porque todos do projeto nem ao menos se referem ao Bob como pessoa. Eles afirmam que no projeto, ninguém tem nome. De novo, era a perda de identidade. O narrador diz que ele tem sim um nome “Robert Paulson”. Mas ninguém entende o que ele quer dizer e acham que só na morte alguém tem um nome.

          As coisas fogem do controle. O clube passa a ser maior que o narrador. Ele resolve ir atrás de Tyler Durden para pedir ajuda. Ele segue pistas de Tyler por todo país, até que em um bar, onde há outro clube da luta, alguém o chama de “Tyler”. E ele fica assustado. Corre para o telefone mais próximo e liga para Marla, perguntando se eles já haviam transando. Marla acha que é tudo piada e, no meio da ligação, o chama de Tyler. Neste exato momento, Tyler aparece sentando para Jack. Ele então revela toda a verdade.
                O Tyler e o narrador, como já dito, são a mesma pessoa. Tudo o que o narrador sempre quis ser, Tyler é. Ele é o alter ego criado pelo protagonista. Nos momentos de insônia do personagem, Tyler assume o corpo e faz o que quer.

Todas as formas que você gostaria de ser, este sou eu. Eu tenho a aparência que você queria ter, eu fodo como você gostaria de foder, eu sou esperto, capaz, e o mais importante, eu sou livre de todas as maneiras que você não é." (Tyler Durden, Clube da Luta)

                Tyler revela seu plano de acabar com todas as grandes empresas de cartão de crédito, explodindo seus prédios para zerar o débito. Logo após, o narrador “dorme” e Tyler assume. Após um desenrolar do filme, o narrador consegue se livrar de Tyler. Os membros do Projeto trazem Marla Singer para o protagonista, contra sua vontade. Os dois assistem a explosão de todos os prédios juntos. Nesta cena, há muitas coisas. Primeiro, Marla. O narrador finalmente aceita suas vontades e se entrega a ela, para eles ficarem juntos como pessoas. Os prédios explodindo mostram um novo futuro pela frente, novas chances. Tudo começará de novo. As roupas que os personagens usam nessa cena são muito maiores que seu corpo. Quando visto de costas, eles parecem crianças em roupas de adultos. É o renascimento para os dois. O narrador que havia morrido quando seu apartamento explodiu, agora renasce em um novo mundo, onde ele e Marla, terão que crescer e se adaptar.

"Você me conheceu num momento muito estranho da minha vida."

    Considerações finais.

                    Clube da luta é bem mais que uma pequena história com inicio, meio e fim. É um filme para te fazer pensar como o consumismo pode te afetar negativamente, criando até mesmo a falta de identidade, ou depositando-a em simples objetos.


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